quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

ENTÃO É NATAL...




"... Quando os magos encontraram Jesus, em casa, Ele estava perto da idade de dois anos. Como se pode ver, não se tratava mais de um recém nascido".
Rosh Yishai ben Yehudah.

  Como fazer para explicar ao Peru o sentido do natal? Este provérbio popular é usado em casos de grande complexidade paradoxal, pois explicar ao peru o sentido do natal, ou poderíamos ainda dizer o sentido do dia de ações de graças, não é tarefa fácil, por assim dizer.
  Lendo a entrevista de Roger Chartier concedida a Revista Presença Pedagógica, e analisando questão por questão imbuído em achar um recorte, uma fala, algo que me fizesse pensar com o autor, numa proposta de redigir um texto criticando ou apoiando algo, como uma letra de música, um artigo, enfim, coisas de nosso cotidiano. A prática constitui as representações em ação, captadas nas condutas do cotidiano ou no ordenamento dos rituais sociais – Chartier.
  Minha primeira proposta era analisar uma letra de música frente ao texto de Chartier, mas, durante a leitura pensei na questão do natal, que esta tão disseminada em nosso convívio, tão impregnado que é uma aventura, não muito bem vinda trilhar pelo caminho das indagações quanto a essa prática e essa representação que é o natal.
  Quando digo que não é muito bem vindo trilhar por esse caminho, refiro ao fato de já estar tais práticas e representações tão impregnado em nosso meio que o escrever, o falar, o indagar, o levantar suspeitas contra tais praticas é tido como loucura , e esse discurso não interessa a “sociedade”, sobre tudo a capitalista, que faz desta data ANACRONICA, seu meio de explorar pela FÉ, os incautos ou aqueles que simplesmente não faz conta e não querem saber o “real” sentido do natal – se é que há ai um sentido – e muito menos se tal ato ou data tem de fato resquícios ou fundos de verdades.
  Gosto muito da fala de Jean Jacques Rousseau – 1762, quando diz:
A maior parte das nações, como a dos homens, somente é dócil na mocidade, envelhecendo, tornam-se incorrigíveis; logo que os costumes estão estabelecidos e os preconceitos arraigados, é vão e perigoso querê-los reformar; o povo nem pode aturar que se toquem seus males para os destruir, semelhante aos enfermos estúpidos e covardes que tremem ao ver o médico.
  Se nos estamos tão arraigados com nossas crenças e crendices tais como foram nos passada pela historiografia ou por qualquer que seja o modo que até nossos dias tem chegado, e se não temos um mínimo de despertamento no sentido de requerer, de analisar, de repensar tais práticas então estaremos como disse Rousseau agindo como os pacientes ao ver o médico.
  A pretensão deste modesto texto não é esclarecer os fatos, contar a verdade, mas juntamente com o autor proposto e outras leituras, levantar questionamentos e por em cheque nossas praticas e representações, indagar se estamos vivendo nossa vida ou vivendo a vida que outros querem que vivamos, se pratico esse ou aquele ato por fé ou por convicção ou por maioria de voto , se estou ciente que tais praticas não condiz com a sua origem e se as prático é por mera vontade de praticar ou por ingenuidade.
  Como se diz na psicologia, onde acaba a explicação lógica (cientifica) parte então pra fé, é fé na psicologia é algo supremo que não se contesta e nem se indaga, (lógico há exceções a regra). Mas dentro da tradição e cultura judaico cristã a fé é questão de divergentes debates, e numa análise profunda dos textos bíblicos a fé é algo único, algo que apesar de ser debatida, tem de ter coerência com os textos da bíblia.
  O que vemos hoje é as praticas e representações totalmente desamparadas dos textos da Bíblia, tais como foram escritas, me refiro aqui a meu tema estudado que é o natal, e com o passar dos tempos tomou corpo em si mesmo e não há mais a indagação de que o que vemos hoje por ocasião do ultimo mês do ano é na verdade mais um Show de pagandice do que algo regido pela crença de origem de nascimento de tal cidadão, pois uma vez Ele sendo judeu, sua fé, sua crença, seus afazeres eram todos judaicos e não admitia adoração a divindades extras judaicas na sua religião, e creio que todos sabem que a Bíblia foi escrita por judeus, as ordens e mandamentos e outros afins ali registrados foram dados aos judeus e eles foram os detentores destas ordenanças.
  Quero dizer com tudo isso que dentro do seio da religião judaica cristã foi introduzida crenças de outros povos por parte de Roma e o seu principal regente foi Constantino , que em 313 legaliza o cristianismo como religião do Império Romano – Revista Veja – 15 de dezembro de 1999, tudo isso para não perder ou tentar manter-se no poder frente as divergências entre romanos e cristãos, e pra agradar a todos incorporou a figura de Yeshua (Jesus) ao dia comemorado pelos pagãos como o dia do nascimento do deus Sol Tamus, que era dia 25 de Dezembro. Em 319 o Cristianismo incorpora ritos e costumes pagãos. O Natal passa a ser celebrado no dia 25 de dezembro, dia do deus Sol, e o culto à Virgem Maria substitui o de Cibele, mãe dos deuses romanos – Revista Veja – 15 de dezembro de 1999. Como vemos, não somente a questão da Natal foi arquitetada pela cúpula de Roma, temos uma gama delas. Que dia que ele nasceu, não se sabe! E também não vem ao caso, a questão aqui é que ele não nasceu em dezembro e muito menos no dia 25 deste.
  Transcorridos tanto tempo deste acontecimento (nascimento de Yeshua), vemos em nossa atualidade o pouco causo que se faz com personagem em si, suas, por assim dizer “reais” razões, e é dada notoriedade a tradições populares e pagãs , sem ser questionado o motivo de tais práticas.
  Pela História Cultural proposta por Chartier, que pretende romper com as distinções primordiais tidas como evidentes – eruditas / popular... postula identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade é construída, pensada, dada a ler. Varias verdades temos do Jesus bíblico, e em diferentes lugares e momentos uma verdade, uma prática, uma significação dEle foi construída para dar cabo a algum intento maior. Inclusive a desjudaização do mesmo.
  Apesar de que para parte dos Judeus naturais, o Jesus não é o Messias, eles não negam a existência de uma pessoa que viveu e foi morto no período em questão na Judéia , não foi dado ênfase por eles a essa questão. Jesus continuava a ser um simples homem mortal, e isso todos os cristãos do primeiro século não duvidavam, e assim o foi, conforme textos bíblicos, até o Concilio de Nicéia em 325 quando Jesus foi elevado a condição de Deus, ou seja, o Segundo Deus, o Deus filho. Partindo desta data o nome de Jesus foi sendo divulgado cada vez mais, mas de modo adverso do que era crido pelos seus seguidores imediatos e do que foi deixado escrito no conhecidíssimo Novo Testamento. Para conter qualquer protesto não foi medido esforço em abafar qualquer pensamento ao contrario, bulas foram emitidas, decretos chamados dogmas foram editados.
  Hoje vemos o natal disseminado mais como data festiva comercial do que um ato de religiosidade, onde um Jesus Deus e lembrado, aliais um menino Deus, onde ninguém rompe com as evidencias, onde também não interessa romper, pois como muitos dizem: o que vale é a intenção. Mas que intenção é esta que macula, rompe, quebra a própria tradição que muitos dizem estar seguindo? Onde no contexto bíblico se acha escrito que os pastores de ovelhas e magos estiveram juntos na manjedoura ? Como pode uma família pobre como era tal família do relato compactuar com uma imensidão de atos ilógicos e impensados, tais como é o comercio ou venda das almas?... Continua ai um paradoxo.
  Romper com as evidencias, destruir o inquestionável, indagar o obscuro não é tarefa fácil de fazer, ainda mais numa sociedade alienada e homogeneizada que vivemos hoje, onde destoar por mínimo que seja do discurso oficial é motivo de desprezo, onde quem se propõe a tal é tachado como louco.
  Vemos, pois uma crença, vontade de crença que mesmo regido pela fé, que é algo maior e sublime, tem que ter coerência, pois onde não se explica mais nada é que a fé entra e penetra o mais profundo dos sentimentos e pensares. Vemos porem que alguns fatos do nascimento se explicam, logo aqui usamos a razão e não a emoção, ou seja, a fé aqui não tem tanta razão de ser.
  Fico chocado e estarrecido é com a gama de religiões existentes e que se auto denominam propagadoras dos ensinos bíblicos do Rabino Yeshua, praticar tais atos que tem suas origens em crenças extras bíblicas (pagãs) e não condizem com os ensinamentos deixados aos Hebreus que Jesus veio pra cumprir e não dar fim . Quanto mais acadêmicos que tem acesso as historiografias, se deixando levar “pela história oficial”.
  Uma vez que temos mecanismos para contestar e rever nossas práticas, analisar nossas representações, devemos fazê-la; fazê-las sim, no sentido de pensar nosso cotidiano e não em rotular o pensamento dos demais... se bem que ai há o maior dos paradoxos !... Como fazer então? Fica a questão pra imaginação e pensamento de cada um de nós.

Este artigo contêm várias notas de rodapé... Não sei como colocar aqui. Bom, mas creio que da pra ter a noção exata do que quero passar. Gracias.